A BESTA FERA

 

                                                         Como é triste o ser humano

                                                                      Que se entrega ao casuísmo

                                                                      Chega a ser tão desumano

                                                                      O terrível  entreguismo

 

         Naqueles anos acontecia um fato curioso. Muitas pessoas vinham à Igreja e pediam ao Padre para benzer umas velas que traziam. Eram feitas com cera de abelhas e de resina. O Padre no começo as abençoava, porém ao ver a grande multidão que o procurava começou a desconfiar que alguma coisa de estranho estivesse acontecendo e resolveu perguntar o porquê dessas velas bentas. Responderam que é porque estava próximo de acontecer uma grande escuridão, onde apareceria a Besta Fera para atacar e devorar quem não tivesse uma vela benta acesa.

        O pior que a Besta fera existia mesmo e eram os que aproveitavam da escuridão e da ignorância para devorar o pouco que os incautos tinham reunido nestes anos a fio. Alguns meses depois apareceu outra conversa; dizia-se que haveria uma grande invasão das águas, um novo dilúvio e que só se salvaria quem fosse morar lá no alto do morro, onde se cultuava uma cruz que havia pertencido a um beato falecido. O padre viajando naquelas bandas subiu o dito morro em que haviam construído uma capela e no altar veneravam uma cruz bem rudimentar, uma cruz de madeira lavrada a facão de mais ou menos quinze por oito centímetros. Nela havia a escrita “Sata Cruis bedita”.

        O padre a levou consigo, porque era venerada não pelo Cristo, que nela havia morrido, mas pelo beato que a fez e usou. Quantos largaram tudo e seguiram esses messias que mal soletravam, todavia tinham um carisma muito forte e sabiam arrastar os mais fracos, sempre ameaçando que o fim do mundo estava perto e garantiam salvação a quem os seguissem. Hoje ainda existem, em carne e osso; são os que se aproveitam da simplicidade e da ignorância do povo para dilapidar os que teem mentalidade fraca e se deixam arrastar por estas verdadeiras “Bestas Feras” em pleno século XXI. Há Bestas feras que são verdadeiros sacos sem fundos, que nunca se saturam, mesmo com salários de verdadeiros marajás. Os romeiros ainda acreditam na Bandeira verde, seguem tangidos pela superstição e dizimados pelas epidemias, sendo constantemente explorados pelas Bestas feras de todos os tempos.

            A mais verdadeira história é difícil ser contada

            Cada qual tem sua memória e a história é adulterada

            Quanta gente já morreu perseguindo uma quimera

            Pobre gente andando ao léu ao fugir da Besta Fera

É preciso conhecer quem é o guia dessa lida

Não se deixe envolver entregando a sua vida