Conto: Choque de Civilização

 

                                                                                                           É antigo este costume

                                                                                              De viver sempre a migrar

                                                                                              Até o peixe em cardume

                                                                                              Volta à fonte a desovar

 

            As nossas matas eram ubertosas, percorridas pelos índios Carajás, Kraôs, Xerentes e Apinajés. Cada tribo tinha as suas tradições e quando se encontravam nem sempre eram pacíficas. As mulheres permaneciam na aldeia, plantavam mandioca, abóboras, arroz, feijão e milho; tudo o que compõe a agricultura familiar. Era tarefa delas também a extração do óleo de côco babaçu, além dos demais serviços domésticos. A obrigação dos homens consistia em caçar, pescar e defender a aldeia. Era a civilização baseada no dia a dia, plantavam o que realmente necessitavam. Eram imediatistas, preocupavam-se com o hoje. Caçavam e pescavam o que podiam consumir e repartiam se houvesse abundância. Também não derrubavam as plantas sem ter necessidade. A mãe terra é sagrada e vai respeitada.

            Um belo dia chegaram como intrusos, uns retirantes da seca do nordeste e fizeram desse lugar a morada deles. Aqui plantaram arroz, feijão, mandioca, café e demais cultura de sub existência, além de criarem umas vaquinhas para o leite nosso de cada dia.

            Acontece que periodicamente apareciam alguns das tribos para caçar e pescar. O nativo não tinha o senso de propriedade, para ele todos os animais eram objetos de caça e pesca; encontrando uma vaca achavam-se no direito de matá-la e levar as carnes para alimentar a aldeia.

            Os novos inquilinos não gostaram nem um pouco ao ver que as rezes desapareciam uma após a outra, assim começaram a vigiar o rebanho pondo armadilhas para pegar a fera que dizimava as vacas. Foi ali que descobriram que eram os índios que roubavam as rezes, então partiram para defender o que era propriedade deles, armando tocaias para matar os ladrões de gado. Naquela época achavam que os autóctones não tinham almas, então era permitido matá-los. Os nativos sendo atacados começaram a se defender e ali aconteceu o choque entre as duas civilizações.           

            Infelizmente os brancos espalharam o vírus da gripe entre os primitivos que, não possuindo anticorpos para defendê-los das doenças ocorreu um verdadeiro genocídio ceifando aos milhares os indefesos nativos.

 

               Quem se diz civilizado, porém usa a violência

               Vê apenas o seu lado acha justa a prepotência

               Nossos livros mais sagrados falam em Caim e Abel

               Dois irmãos abitolados Cada qual no seu cartel

               É preciso questionar Porque o outro é diferente

               Não podemos esquivar Mas, tratá-lo como gente

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