Facebook e a vaidade dos Narcisos virtuais

14-09-2011 21:55

Comportamento e Tecnologia

Cleórbete Santos
 

No filme Avatar, de James Cameron, conhecemos a fictícia população autóctona Na'vi, que entrou em conflito com os colonizadores da também fictícia lua Pandora, seu lar natural.  Quem assistiu o famoso filme deve lembrar que o protagonista era paraplégico, mas que ao encarnar sua versão Na'vi-humana, conseguia não somente ficar de pé e andar, mas também correr e "pilotar" espécies de animais voadores símiles a pterodátilos. Por sinal, o termo "encarnar" é a acepção original do termo avatar, que em hindu significa a "descida" de uma divindade, sob a forma de um corpo físico, para nosso plano material. Mas o que isso tudo tem a ver com redes sociais como a Facebook? Vejamos.

 

Enquanto no hinduísmo um deus perfeito e imaterial transforma-se em algo imperfeito (humano) e material, nas redes sociais "virtuais" acontece, como no filme Avatar, o inverso, pois nelas temos a transformação (mesmo que meramente imaginária) de mortais em divindades, num antropomorfismo moderno e eletrônico. E por qual razão?

 

Para responder à essa indagação, temos que viajar para séculos atrás, e sentarmos ao lado dos gregos que admiravam os corpos belos e esculturais dos participantes das olimpíadas (ou ao lado dos romanos que rigozijavam-se com as lutas entre gladiadores nas arenas de combate). Notou a alusão aos jogos de futebol, aos reality shows, ou às telenovelas, caro(a) leitor(a)? Sim, os gregos e romanos eram a platéia que transcendia-se para os corpos dos atletas e lutadores, tal como fazemos atualmente nas versões modernas de tais "palcos".

 

Ao torcemos para jogadores de futebol (ou mesmo para um time como um todo) ou para participantes de big brothers da vida, ou ainda nos identificarmos com dadas personagens das telenovelas, estamos nos abstraindo como avatares para que aqueles que nos "representam" sejam desejadamente vencedores nos jogos, disputas e demais desfechos, afinal, somos "nós" vencendo. O mesmo é válido para nossos perfis (avatares) nas redes sociais.

 

Muitos utilizam as redes para conseguir brilho para seu avatar das mais engraçadas, inusitadas e também sinistras maneiras: uns acreditam que ter uma vasta quantidade de amigos é sinal de vitória, outros colecionam incontáveis noites de sono (contanto que os demais saibam disso), e alguns outros apenas lutam contra sua solidão enquanto descansam nos braços de qualquer outro avatar que "curta" ajudá-lo na causa. E há ainda alguns que utilizam falsos avatares (em prol de falsear ainda mais o fictício) para fins que deixo ao bel prazer dos campos férteis de sua imaginação, nobre leitor(a).

 

A verdade seja dita: não somos e nunca seremos o nosso avatar no Facebook, pois ali disponibilizamos apenas o que acreditamos ser o mais belo de nós. São nossas melhores fotos, nossas melhores falas, nossas expressões mais belas destinadas a outros avatares, que nem sempre conhecemos bem e pessoalmente, ou não conhecemos pessoalmente, ou pior ainda e na maioria das vezes, conhecemos pessoalmente mas sem conhecê-los humanamente.

 

Para complicar um pouco mais as coisas, todas as informações de nossos avatares dependem do nosso conceito de belo, e com isso há uma distorção ainda maior no resultado esperado: nem sempre somos belos aos olhos dos demais belos.

 

O filósofo alemão Friedrich Nietzsche, em uma de suas obras, disse que "não há realidades eternas", e que a Filosofia e a Ciência não haviam conseguido criar espíritos livres, pois ambas deveriam entender que somos todos "humanos, demasiado humanos". Dito isto, forjar-nos como seres perfeitos em realidades aparentes é fugir de nosso bem mais precioso: nossa humanidade, que deve ser fortalecida e enaltecida pelos meios tecnológicos, e não falsificada ou destruída pelas nossas "vontades de potência