DIA DE FINADOS
Fecho os olhos e me revejo há mais de setenta anos atrás, junto à mamãe, papai, irmãos e irmãs, formando um lar feliz numa honrada pobreza. Naquela lastimável primeira guerra mundial as restrições foram impostas a todo o povo, pois quando não se trabalha a terra, não existe alimento para a população.
Foi nesse clima que papai e mamãe se casaram. Desta união brotaram várias filhas e filhos. Antes de mim havia duas irmãzinhas. A morte apareceu cedo em nossa casa. A segunda irmãzinha de dois anos voou para o céu, comovendo a população do lugarejo, pela maneira como nos deixou. Ela previu a própria morte, pois se despediu de toda a vizinhança, dos irmãos, de mamãe e, no colo de papai adormeceu e não acordou mais, em pleno mês de maio, mês das mães, das flores e de Maria.
Com apenas trinta e três anos, também mamãe nos deixou em desespero, pois pressentia o desmantelo de nosso lar. Foi um triste fim de ano gélido e inesquecível. Transcorridos mais trinta e seis anos, desde o dia fatídico, lá se vai papai em pleno mês de agosto, a estação mais quente do ano. Passados outros onze anos e a mais nova das irmãs nos deixa; um câncer no cérebro é fatal. Não adiantaram as repetidas operações cirúrgicas e demais aplicações tão sofridas. Mesmo assim ela, sorrindo, adormeceu para sempre. Era a estação do outono, mês em que as folhas caem deixando os galhos solitários feito gigantes que imploram a proteção contra o frio que está por vir.
Todos estes exemplos e, cada família poderá contar os seus, são para nos alertar que a vida na terra é passageira e nós devemos nos preparar por que a morte não escolhe idade, cor, raça, posição social ou sexo. Para quem acredita a morte é o nascimento para a vida na glória eterna, o fim da permanência neste vale de lágrimas e começo da nova história na Pátria Celeste. Esta terra é um exílio onde cada um se purifica para merecer o prêmio final.
SIM, CREIO NA VIDA ETERNA: FINADOS NA TERRA, PORÉM FELIZES NO CÉU.
Angelo Bruno
31-10-2011